30 de janeiro de 2013

Alucinações...

Corrida desenfreada com freio, sem correntes, nas asas do condor negro da imaginação. Percorrendo vielas sem nome, sem destino, na busca incessante do desconhecido, tropeçando, caindo e levantando, sempre sem descanso, olhando o frio desértico da alma de frente, luta imensa sem fim. Tracejado alegórico composto pelos elementos estáticos de uma alma empobrecida pelas rugas do caminho vestido de noite, e ensopado no suor que se derramou pelo canto triste da lua... Em voo picado em direcção ao coração, coroa o dia com mais um pouco de sal... que de pimenta basta o gosto adocicado do pó da estrada engolido avidamente... uma mão apertada na outra e a voz lá do fundo grita surdamente entre as paredes esféricas da caixa torácica as lágrimas que um dia deixaram de nascer, e alimentam o sorriso escancarado da tristeza... Fecho os olhos e de braços abertos entrego a alma nas mãos da noite, deleite espontâneo do pássaro livre que me enchee aninha no peito, olhar hipnótico do destino que me empurra no abismo onde me abandono, sem medos... respiro, sinto a noite levar-me a alma... lutando para não se desvanecer em cada dia de luta, sangrenta e árdua batalha interna, dicotómica e invisível aos olhares baços da multidão dançante em minha volta. Retorno incessante para lugar nenhum, vestindo de novo o cheiro da pele que me adorna a timidez, encolhida entre os lençóis alvos da pureza, com que me desfaço das roupas da parte do dia iluminado pelo raio ténue do sol, esse cão vadio que me faz companhia sem trela! Num desejo inquieto e profundo de apenas receber um sopro de vida... sôfrego, vivido, sentido!

17 de janeiro de 2013

Apenas e só instantes...


Foram segundos, minutos, horas, dias, meses de espera imaginada, sôfrega, ansiada pelo encontro da alma que lhe enchia as mãos de esperança, lhe sufocava o corpo faminto de sensações desnorteadas da loucura, do desejo inerte e adormecido dentro do peito. Foram tantos os cenários construídos na ilusão do sonho de um dia… rios infindos de quereres, danças invisíveis projectadas nos olhares que se enamoraram de cada vez que timidamente se encontravam, abraços fortes enlaçados pelos sorrisos que se desprendiam quando os dedos se tocavam levemente… foram tantos os momentos desejados que engoliram o tempo, e o fizeram parar naquela noite, debaixo do candeeiro, na esquina arredondada do caminho ainda por percorrer. O nevoeiro cerrado entrou pelas ruas fora, o manto de estrelas aconchegava a lua redonda, e os espantou para dentro de quatro paredes onde dançaram ao ritmo apressado dos corações que pareciam explodir e saltar pelas bocas sequiosas de matar o desejo. Eram corpos enrolados pelas línguas que se provavam e devoraram no instante que se tocaram, e não mais se quiseram largar. Foram instantes de loucura partilhada num abraço, um beijo, um afago, um sorriso, um piscar de olhos trocado entre ambos… Pelo chão, acompanhando as peças de roupa largadas, ficaram as gotas de prazer que escorreram pelos dedos exploradores da pele emudecida, nua e despida pela luxúria, despojada de pudores, e empregnada dos líquidos misturados em sabores doces e salgados, derramados nos lençóis cúmplices e testemunhas do crime cometido Foram longos os segundos que hipnotizaram os corpos fundidos num só, presos num olhar penetrante até às entranhas estremecidas pelo odor ousado com que as curvas se encaixavam e gemiam em gotas de suor sussurado, conduzindo ao êxtase final, na tentativa de ficarem entrelaçados para toda a eternidade... foram apenas e só uma paragem no tempo....