12 de março de 2012

Reflexos da lua...

Princípio da noite, a água morna do banho sossega a alma, que pede o descanso num sofá adornado por uma manta de veludo cinza, onde me afundo na noite escura iluminada pela lua e as estrelas, lá no alto, riscando matizes bi-colores no chão frio de mosaico na minha frente. Puro deleite, que me tacteia o corpo, o som que se escuta da noite que entra pela fresta da janela meia fechada, numa brisa fresca de inverno, que me abre as narinas de forma a sorver por completo esse aroma de terra quente de uma primavera que ainda não floriu... Fecho os olhos, sorriu e embalo nas sombras, nos sabores que se colam na boca, se agarraram nas mãos que me abraçam o corpo. Quanta magia num momento de silêncio comigo mesma, sem vozes, sem tempo, sem pressa, esquecida na poltrona solitária... no recanto da minha imaginação, percorrendo ruelas antigas, voando no relógio do tempo, entre o aqui e agora, e o que já foi... sem ti, contigo, o que um dia fomos... numa fracção de segundo, onde o olhar disse mais que as mãos que se procuravam, mais que as bocas que se uniam numa só, mais que o calor dos corpos que se desejavam e sorviam, onde a respiração parou por um instante de vida, e deixou que a magia reinasse numa constelação fora de nós... Sinto a brisa que me entra pelo pijama acima, deixando-me os seios arrepiados, fico imóvel nas recordações que me bailam na frente dos olhos, nas sombras que a lua me oferece e presenteia sem pedir nada em troca... um suspiro solto no ar... onde a suavidade das lembranças dos pequenos gestos fazem crescer a saudade de amar... onde as sensações de ardente desejo fazem acelerar o sangue que me percorre as veias... vagueio no puro silêncio deixado pelos reflexos da lua mascarados de noite iluminando a alma, que sorri ao tempo, que ainda está para chegar...

2 de março de 2012

Nas sombras da noite...

Dás-me as mão sem a ver, apenas sinto levemente o aperto que o teu calor deixa espalhado pelo corpo.  Arrepios na pele, devaneios em noites de insónias, aquelas que nos aglutinam o pensamento e nos asfixiam a respiração... um twist intenso de esgotamento total da energia que me circula nas veias. E a lua que não veio! Assalto trocado em passos dançantes, e casas assombradas pelo breu da noite ensandecida pela imaginação fértil de uma mente que descansa de olhos abertos. Rugidos, e mistérios caminhantes da noite, que lentamente se vão escondendo dos raios de luz que brevemente irá nascer. Queimam-me as entranhas, de intrincados trocadilhos que a vida me permite fazer, numa roda gigante, de leves cores entrelaçadas em constelações plantadas no centro do mundo. O meu, apenas e só!... Se corro, pareço parada, e se paro, sou quase atropelada, a vida não permite devaneios, os tantos que muitas vezes me alucinam de felicidade, fugazes como a aragem de verão que retorna apenas de ano a ano... Sentada na beira da madrugada trago em goles brejeiros um chá de maça canela, adoçado com o mel da vida, aquela que às vezes parece esgotada de tanto que lhe exijo intensidade... morrem-me nas mãos as dúvidas e incertezas do futuro já traçado, mas que sempre me transcende antes de acontecer, num rasgo de insólita premunição, onde as partículas químicas da insolvência do enlace se dissolvem lentamente com o nascer do sol... Caminho de novo em direcção ao repouso nocturno, aquele onde as almas adormecem e se esquecem de existir, onde as bocas não falam nem os olhares são trocados, apenas abraçados pelo silêncio de mais uma noite, fantasma andante nas sombras da minha casa...