18 de setembro de 2011

Confesso-me a ti!

Saudade...  E como se impede a alma de sentir!?... Não devia existir, nunca! Devia ser proibido! Para não se sentir este aperto no peito que parece estraçalhar o coração, encher a alma dum vazio sem fim, que não é meu, nem é de ninguém, esta dor fina que se aloja bem lá no fundo, sem tamanho nem medida de tanto que parece que vai explodir, enchendo cada canto, cada centímetro de pele, como uma doença que se alastra lentamente, desde a mente que se eleva ao passado, e que teimosamente lá quer permanecer por mais que tente faze-la voltar, até ao mortal corpo que se ressente em tremores. Esse frio incendiário que vai subindo corpo acima invadindo sem permissão cada curva, cada dobra numa convulsão que se agiganta e termina num amargo de boca, num nó na garganta, que prende até a fala, não deixando lugar nem para um suspiro de silêncio, terminando num eco surdo dentro do coração, e fazendo doer. Tenta-se encontrar incansavelmente uma distracção mas todos os caminhos parecem desembocar no mesmo lugar, esse buraco sem paredes, nem direita nem esquerda, esse lugar onde poucos têm permissão para entrar, e que depois tantas vezes não os queremos deixar sair. Ah! Dor ladra da alma! Deixa-me voltar! E pede-se à alma, ave, pássaro desobediente que volte, que bata em retirada dessa batalha ingrata de deixar de sentir, para não mais ouvir essa melodia triste que ecoa na alma, e humedece o olhar quando num piscar de olhos se viaja até ao passado. Mais que um querer, é uma imposição irreal este implorar da razão ao espírito para regressar da nostalgia de uma saudade dorida de tocar levemente um rosto, sentir a força de uma outra energia misturada à nossa, o carinho de um gesto, o cheiro sentido de outro alguém, a troca de um beijo demorado... simplesmente olhar nos olhos e sentir que de alguma forma o vazio está acompanhado por dentro, neste silêncio surdo de carência...

10 comentários:

Luz disse...

Saudade... tem tanto de dócil como de esmagadora... Sei tão bem o que é esse sentir que sentimos tantas vezes, até a vida toda, ora de sorriso nos lábios, ora de lágrimas nos olhos...

Beijo

Eva Gonçalves disse...

Os teus textos são muito intensos, complexos, mas profundos. A minha alma ainda tem de aprender a não sentir... nem sei o que isso é... mas conheço quem se refugie num vazio para não tornar a ser magoado... Beijinho

Moi disse...

Luz,
Amiga, que saudades tuas...
Em poucas palavras resumiste o meu texto! Mas entre nós isso não é de estranhar, afinal mesmo com esta distância toda, lês-me tão bem!


Beijooooooooooo

Moi disse...

Eva,
Profundos como as emoções que nos permitimos sentir... e quando achares a fórmula divulga-a por aí... e a questão nem é não voltar a ser magoado, mas apenas e só colar os cacos partidos.


Beijo :)

Nilson Barcelli disse...

A saudade é um sentimento contraditório... gostamos e detestamos senti-la, tem um sabor amargo/doce nada fácil de explicar...
O teu texto é excelente. Gostei imenso.

O único problema é visual, eu sinto dificuldade na leitura... falta-lhe espaço suficiente à volta (as coisas têm que respirar...), a imagem de fundo interfere com as palavras e a ausência de parágrafos também complica (sei que nunca fazes parágrafos...). É a penas a minha opinião, mas a qualidade está lá e é elevada.

Beijos, querida amiga Moi.

Moi disse...

Nilson,
Agradeço desde já a tua sugestão!
Em primeiro tinha aquela letra para lhe dar um ar mais manuscrito, mas confesso que já andava a pensar em alterar. Coloquei o fundo mais opaco, facilita a leitura, sim! :)

Quanto aos parágrafos, aí é que já não. Para já ficam assim!

Em ralação à saudade tal como diz a minha querida amiga Luz, tem tanto de doce como de esmagadora...

Beijos

Penélope disse...

Saudades, traiçoeira, deixa-nos em desalinho, muitas vezes...
Mas pode ter certeza que aprendemos muito dentro delas.
As saudades das ausências, mesmo estando nós em grandes companhias...
Este é um sentimento nato do ser e que para mim cabe uma explicação - que somos frutos de outras caminhadas...
Abraços

Moi disse...

Malu,
A saudade tal como o amor é algo de difícil definição, e de um conjunto contraditórios de sentimentos em um só...
Quem sabe tens toda a razão, sentimos saudade de uma forma quase primata, já nascemos com ela, embora apenas a começamos a classificar mais tarde.

Beijo grande

A Palavra Mágica disse...

Moi,

Sexta-feira, por um desvio de rota, passei no bairro em que eu vivi minha infância e adolescência, passei inclusive em frente às duas casas em que morei. A cada rua eu falava em voz alta o nome completo das pessoas com quem convivi. Muita saudade, mas é como se eu fosse um fantasma entrando num lugar que não é mais meu. Não havia ninguém... ninguém mesmo na rua. Mas o aperto no peito a que você se referiu eu procurei não sentir, pois eu estava ali... sobrevivi ao tempo. Este sim estava morto e eu nada mais posso fazer além de ter a certeza de que enterrei muito bem, para que seja saudade sim, mas tristeza, jamais!

Beijos!
Alcides

Moi disse...

Alcides,
É verdade a saudade só é aperto quando ainda não enterramos convenientemente o passado... ou ainda é recente... mas caminha-se sempre para que a saudade não nos transforme em pessoas tristes por esse mesmo passado.


Beijos
E eu estou em falta com as visitas!