31 de janeiro de 2012

Mero (a)caso!


Quando um dia quiseres estarei lá... onde a chuva faz uma paragem brusca para cair de masinho. Quando um dia quiseres, volto aqui e pouso a mão em cima da tua, e fico a olhar o horizonte, falamos do nada, de coisas perdidas, sentimentos partidos, paixões esquecidas... quando um dia quiseres voltamos a beijar o tempo para ele se esquecer de nós, e vivermos na eternidade envolvente das cores escarlate de que o céu é tingido quando me olhas... quando um dia formos o que não somos hoje, voltamos a dizer palavras doces, amolecidas na paixão do roçar os lábios de mãos dadas... quando um dia chegar o ali, o agora, o momento de tocar o teu rosto mais uma vez, serei só eu... única, indissolúvel da divisão do espaço, aquela que apenas se vê ao espelho nua... quando um dia chegares, eu estarei de braços abertos, sorriso nos lábios, para voarmos até ao infinito... quando um dia quiseres, serei o pássaro no ar, a sereia navegante do teu corpo, enrolado entre os teus braços, misturando-me no teu cheiro, ao sabor dos teus beijos... quando um dia piscar os olhos, a melodia que ecoará pelo ar deste mundo será o brilho dos meus olhos, iluminados por ti... quando um dia for o que um dia sonhei, serei só tua, e de mais ninguém...

18 de janeiro de 2012

Grito do silêncio!


Silêncio... aquele que povoa as ruas desertas da mente, aquele que preenche de frio as almas abandonadas, aquele que atravessa indecentemente os corações solitários, aquele que se faz presente em todos os cantos para onde te olho, na ausência dos dias, das horas que correm desenfreadas pelas calçadas abaixo, sem travão, sem um pingo de vergonha... silêncio, aquele pedaço de gelo derretido  no canto da alma, esquecido e feito animal enrolado debaixo das memórias vivas, aquele que me nasce nas mãos e ao mesmo tempo me morre na boca... silêncio... se faz aqui, onde as aves douradas voavam pelos azuis do céu, deixando um rasto de amargura, um traço grosso como um rio que nasce e corre sem destino, e sem fim... silêncio, derramado nas horas de ponta de uns dedos nervosos que percorrem um corpo arrepiado pelo sentimento que me ferve nas veias, aquele que vive na lembrança dos sussurros proferidos ao ouvido, aquele que me faz alucinar de desejo... silêncio, aquele que me inunda de sangue o coração descompassado, batendo aceleradamente, aquele que de forma atroz se cola aos lábios quando me beijas, e me levas para outra dimensão... silêncio, aquele que se verte no vazio das minhas mãos cheias de saudades, do teu toque, da tua pele, do teu cheiro, agarrados ao meu corpo, à minha pele acetinada e alva de mulher, felina indomável... e no pranto nostálgico do ponteiro do relógio, ergue-se o silêncio da nossa música, distante no tempo e espaço, onde o presente fez uma curva para namorar o futuro... silêncio, silêncio... sorriem os olhos, apaixonados pelas palavras cantadas em notas coloridas numa pauta incolor ditada pelo coração... silêncio...o eco das vozes mudas de uma memória ancorada na alma, que vive dançando valsas com as palavras esquecidas e pintadas a carvão numa folha branca amarelecida pelo tempo... silêncio!...

5 de janeiro de 2012

Um dia depois do outro...


Pintas-me as mãos de rosa, azul céu, e deixas-me na boca um sabor a algodão doce, dessa ternura imensa que me toca as mãos e o corpo. Traço cenários (ir)reais de conjugações imperfeitas em vários sons na escala menor em dó. Floreio-te em canções desmedidas de acordes apenas audíveis ao nível do coração, que bate descompassado nessa linha recta onde balanço diariamente. Rodopio em volta de mim, e deixo que a semente tua seja real, cresça e floresça sem limites, nem limitações, como cordas de era enroscada num sólido tronco de árvore, solitária, no cimo do monte, navegante infinita do vento. (Re)pinto-te de cores de escarlate, marfim e dourado, a condizer com o sol que me aquece o rosto, lívido, sereno... numa resplandecente calma invadindo salas vazias, fechadas, empoeiradas pelo tempo, onde cresces de mansinho, onde ocupas o espaço como inquilino permanente, onde o passar dos anos deixou a marca indelével de quantas arcas e malas ainda se podem encher de farrapos, e vestidos de outras eras... e num leve piscar de olhos a vida dá-nos a volta, e volto a ficar nua... pinto-te e (re)pinto-te várias vezes na tela branca dos dias, um após o outro!...