30 de outubro de 2011

O tesouro...

Navegando pausadamente pelos sinais que me deixas ver, olhar, tocar... com a ponta dos meus dedos, que dedilham sulcos profundos nesse tracejado obliquo da existência, carregado de memórias, antevendo antecipadamente cada passo na bola de cristal da alma, encarcerada nesse corpo divinamente escultural. Onde coabita uma mente de desejos insanos com um espírito livre e selvagem. Impossível resistir, ao indelével desconhecido, prémio final das provas superados pelo caminho tortuoso de uma ambição desmedida, atracção fatal neste reduto imaginário plantado no meu coração. Este vazio pintado de carmim e lilás desses lábios mudos de silêncios, sons proferidos em estrofes encantadas pela dança dos teus olhos, esses que me fascinam, magnetizam, aos quais ficarei eternamente presa, numa busca interminável dum sentimento viginalmente tocado nas sombras do pecado. Percorro veredas infinitas por esses prados... dançando docemente entre as correntes de cada segundo percorrido pelo futuro transformado em presente.  Dança para mim, encanta-me, seduz-me... como uma borboleta frágil que apenas pode ser admirada. Seguir-te-ei até ao derradeiro fôlego suspirado pelos meus meus lábios, os que arrebatas com palavras vãs jogadas indecentemente ao vento, na tentativa inglória de atingir o tesouro mais valioso. Quebra o gelo! Joga de novo as cartas em cima da mesa, e parte em busca desse destino incerto escrito com tinta invisível ao olhar comum... perceptível apenas ao sentido táctil dos meus dedos. Aqueles que levemente te tocam escondidos do mundo, sequer olhados por ti!

14 de outubro de 2011

Pedaços do sonho...

Olho-me nos olhos, e nas mãos vazias ficam as linhas de um esboço mal traçado, escorrido e escrito entre os desígnios dos deuses, numa imensa folha de papel em branco, com palavras nuas, dançando entre as virgulas e os pontos finais... da enxurrada de emoções que a translúcida mortalidade nos obriga a engolir, sem permissão, a seco ou embrulhadas num misto de sorrisos e lágrimas. No silêncio gritante a tinta chora sentimentos contraditórios, onde vive o sonho, que vai dançando lenta e sorrateiramente entre as sombras gigantes do amor/ ódio dos dias de trevas, onde se plantam esperanças nas estacas que demarcam o caminho, um riscado rasurado pelo cair do tempo, atravessado pelas curvas da existência, como passos de um tango descompassado no prazer da mente, construindo assim uma memória inconfundível, talhada a fogo como uma tatuagem definitiva minuciosamente desenhada na pele, de onde jamais se apagará. Conjunção indefinida da intermitência dos desejos profanos da alma, estatelada nesse estrelado levitante que os silêncios carregam noites fora, debaixo do luar dos meus olhos, algodão puro do encanto que remexe cada corda desta viola moldada e feita estátua que hipnotiza, crava alucinações irreais nos mais incautos, derretendo cada pedaço de gelo à sua passagem, numa entrega de olhos fechados e braços abertos às vontades caprichosas do destino impiedoso das memórias, num abandono sem medo ao êxtase de todos os sentidos...

12 de outubro de 2011

Toque a duas mãos...

Há dias que amanhecem secos, onde a alma caminha solitária por caminhos tortos da mente, rebuscando sensações, trazendo lembranças silenciosas à flor da pele. Onde a dor escarafuncha um buraco na alma, que se esvazia terrivelmente, como se a mesma se abandonasse do corpo em lampejos momentâneos. Dias de um doce amargo, de um misto de sensações e emoções, de um desenfreado correrio pelas alamedas verdejantes que me enchem o corpo de matizes dourados, num contraste negro, de fundo multicolor. Sensações que se agarram à pele, num turbilhão de pensamentos, de palavras e silêncios, sem nexo num contexto irreal do que um dia fez florir os sorrisos. Dias iluminados pelos sonhos invisiveis, pelos traços estranhos de um corpo que já atravessou o verão, e deixou a sua marca vincada na sombra da vida. Dias em que o peso dos dias se faz sentir em cada poro do corpo, mergulha e se afunda entre as quatro paredes internas onde impera o silêncio, onde jazem as memórias lívidas do tempo caído no renascer das noites, em interrupções inaudíveis. Dias onde os sorrisos rasgados andam entrançados de mãos dadas com as lágrimas, onde a carência de um gesto despoleta uma torrente de alucinações inesperadas, desejos vazios, inaturais esperanças, daqueles dias que foram enterrados no passado, onde as tuas mãos e as minhas mãos se abraçavam a tocar o mesmo instrumento, em vontades partilhadas, onde os versos escritos no teu olhar eram lidos pelos meus lábios, e faziam cair estrelas cadentes do céu, onde a lua rasgava o infinito em sussurros coloridos. Dias onde as horas enfeitam as ausências do nós como um jardim de rosas, sucumbido ao assobiar do vento. Dias apenas... que se evaporam vagarosamente na saudade de um piscar de olhos...

7 de outubro de 2011

Sombras da Alma...

Penumbra... onde semeias as tuas palavras, encadeadas, soltas, presas em nuvens de sabão. Voa, voa… nesse ímpeto de alcançar, alcançando-me por dentro, nessa tentativa de te prender na palma da mão. Bailando ao sabor dos luares, dos raios de sol morno do Outono, nesse lugar pequenino que se esconde por detrás do coração… caminhos agrestes, símbolos do passado preso, nessa gaiola chamada de tempo, onde morrem as aves, se calam os cantos dos pássaros e se silenciam os murmúrios dos regatos que me levam o oxigénio à boca. Sabores rendilhados engolidos pelas ondas dos dias navegados com sofreguidão e loucuras coloridas… guerra atroz e desenfreada entre o certo e o errado, como um portal aberto na eternidade, onde a salvação morreu à entrada, e a luz da escuridão invadiu o espaço sem permissão, consumindo todos os pedaços acetinados do presente da vida… onde te perdes nas emoções floridas, sopradas pelo silêncio difuso da alma, num soluçar lento da noite, aquela que te acompanha nos saltos mais sombrios da vida, num abandono real, numa presença cortante de uma dor sem fim… essa busca incessante de lapidar o diamante que habita em ti, cristal brilhante que apenas os teus olhos são capazes de ver, sentir… amar!

2 de outubro de 2011

Viagens...

Saltando daqui para ali, dali para acolá danço ao sabor desses beijos escritos na magia da ilusão, no brilho dos olhares trocados, desses mimos incandescentes que me enlouquecem a pele, eriçam o coração e me envolvem o corpo de borboletas... não quero parar de voar nas nuvens que me carregam por dentro dos dias, aqueles que passam vagarosamente por mim, nesse balanço do (en)canto das sereias que me deleitam o corpo de estrelas douradas. Perdida no emaranhado dedilhado entre os suspiros nus que o sol lança à lua quando esta acorda do seu sono profundo, quero ficar nessa dança que as palavras embalam e carregam ao colo, levando-me até ti! Viajo de olhos abertos, procurando recantos escondidos, perdidos, enrugados no horizonte parado do olhar selvagem do infinito da alma. No som do assobiar do horizonte navego por esses oceanos de emoções multicolores, carregadas de gestos sedutores, mergulho em águas calmas que brotam das profundezas de ti... E num riscado angular e perfeito da luz matinal que o sol desenha no meu rosto sinto os teus braços a envolverem-me em doçura, esse mel que me entorpece de amor puro...

 
Participação no tema de Outubro na Fábrica de Letras